Saudações aventureirxs!
Hoje traremos um assunto polêmico para o blog: política. Debatemos isso no nosso antigo blog lá em 2009, repetimos ainda no site em 2012, e agora, com as disputas eleitorais onde temos dois candidatos excepcionalmente opostos, várias páginas no Facebook estão manifestando lados, publicando repúdios para ambos os candidatos, e claro, está deixando em polvorosa seus visitantes mais neutros. Vamos explicar por partes, e sim, colocar nosso posicionamento.
A política está ameaçando o RPG?
Antes de entrar no debate, acessem os links abaixo na ordem:
- https://cavaleirosinsones.com/satanizando-o-rpg/
- https://cavaleirosinsones.com/satanizando-o-rpg-parte-final/
Chocante? Aconteceu nos EUA, e quase afetou o hobby no seu boom na década de 1980.
Agora vamos a esse fato que ocorreu no início dos anos 2000, em Ouro Preto, e repercutiu nacionalmente:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_de_Ouro_Preto
O RPG foi absolvido somente em 2009, com a absolvição dos réus depois de 5 dias de julgamento bem documentado pela impressa. Teve até artigo acadêmico sobre o caso (link).
Até então, eu pensava que esse assunto tinha morrido. Ainda em 2002/2003, os livros de RPG começaram a ter classificação indicativa, e muitos dos mais famosos ficaram entre classificação 16 a 18 anos, durante os anos da repercussão do “Caso Ouro Preto“. Se tem alguma dúvida sobre classificação indicativa, acesse esse link.
Então chegamos ao que está causando furor na internet nessas últimas semanas…
Políticas e polêmicas…
Como experimento social, colocamos na nossa fanpage no Facebook o seguinte vídeo:
Créditos: Ordem do Dado.
Nosso colega aponta um caso mais recente, onde em Guarapari (notícia nesse link) foi até proibido. a Lei está nesse link no qual transcrevo logo abaixo:
Depois desses links todos, chegamos à polêmica.
Atualmente, o deputado federal (reeleito) Marcos Feliciano, um notório fundamentalista protestante, e membro da “bancada evangélica“, propôs em 2017 o seguinte projeto:
O Congresso Nacional decreta:
Art, 1º Esta lei modifica o artigo 74 da Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, para obrigar as exibições ou apresentações ao vivo, abertas ao público, tais como as circenses, teatrais e shows musicais, a indicarem classificação indicativa adequada às crianças e aos adolescentes e proibir que a programação de TV, cinema, DVD, jogos eletrônicos e de interpretação – RPG, exibições ou apresentações ao vivo abertas ao público de profanarem símbolos sagrados. […]
Se quiserem ver o projeto completo, acessem esse link.
O projeto atira em vários ícones da cultura geek de uma vez só, mas vamos focar no RPG até o momento, ok?
A PL ainda não foi aprovada, mas nada impede de ser colocada em estudo, e por um acaso do destino, seja aprovada. E qual os riscos?
Como dissemos, o deputado (que é um pastor, não coincidentemente) foi reeleito em São Paulo (valeu, paulistas!), e nada impede dele levar esse projeto para frente. Ele tem uma bancada ao seu favor, e se o candidato à presidente que ele apoia (Jair Bolsonaro) sair vitorioso nesse pleito, o dep. Feliciano pode sim ter ao seu favor a maioria dos votos na Câmara. Atualmente, a bancada progressista não está em desvantagem, mas nada impede deles galgarem votos para esse absurdo, em nome da família e bons costumes (quê?).
Estamos tendo uma onda conservadora sim no Brasil desde 2014, e com a polarização cega de ambos os lados, temos sim riscos de ter que jogar nossos RPGs na surdina, e ter eventos cancelados, pois vai ter uma mesa de Dungeons and Dragons ou de Vampiro – A Máscara no local, o que pode inviabilizar todo o evento. E nem cheguei a falar de séries e filmes (Adeus Vikings e Lúcifer…).
Senhores, não é um ataque de histeria despretensiosa, nem defesa de outro candidato. É uma ameaça REAL, pois podemos ver a onda fundamentalista em qualquer local hoje em dia. Se você entra em um ônibus, tem uma chance de 1 a 15 no d20 de encontrar um “pastor” pregando obrigatoriamente para quem quiser (e quem não quiser). Nas esquinas, agora temos auto falantes gritando sobre Bíblias e quem não seguir vai para o inferno. Temos outras religiões fora do eixo cristão sendo atacadas, como as de matrizes africanas. E claro, podemos ter sim uma geração de novos jogadores tendo que – novamente – jogar escondidos dos pais, com o risco de ter livros de RPG e cards queimados pois “é coisa de satanás”. Nem vou falar do slogan de certo candidato, insuflando conservadores e fundamentalistas à votarem nele…
Se as palavras acima não assustaram vocês, é porque vocês não chegaram a jogar um dos hobbies citados na década de 1990 onde os nossos pais se alimentavam de conversas de vizinhos desinformados, e as capas dos RPGs não contribuíam com a desmistificação. Agora imagina hoje em dia, com essa onda de fake news, onde seu pai prefere acreditar no que foi enviado para ele no Whatsapp do que pesquisar um pouquinho no Google?
Preparem-se aventureiros! Os tempos vindouros são tenebrosos!