Minhas definições da palavra nerd, o que ela significa e porque essa palavra passou de insulto para elogio, e hoje eu trato como um insulto.
O “nerd” tem que acabar
Saudações, aventureirxs!
Você não leu errado. O “nerd” tem que acabar. Mas antes que você venha me crucificar pois sou nerd criticando nerds, vamos contextualizar.
Hoje é o Dia do Orgulho Nerd, uma data escolhida por homenagear um grande “nerd”, Douglas Adams (já falo dele), e também a estreia do Star Wars. De pessoas que sofriam bullying na escola por preferirem estudar a praticar esportes ou socializar até a popularização nos últimos 15 anos.
A palavra nerd era uma espécie de xingamento, e hoje é uma palavra de orgulho para muitos. Com a definição de outro tipo de nerd, o geek, muitos hoje que frequentam as redes sociais se orgulham do nome atribuído, estampam em camisas ou fotos de profile imagens da cultura pop-geek, e batem no peito defendendo seu estilo de vida.
Então, por que o “nerd” tem que acabar?
História do Dia do Orgulho Nerd
Douglas Adams foi um escritor britânico que nos deixou muito cedo (1952 – 2001), mas antes presenteou a humanidade com uma incrível série de livros que ganhou notoriedade mundial: a série O Guia do Mochileiro das Galáxias (The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy). Esse livro conquistou vários fãs por causa da sua leitura super simples (mas filosófica), com uma pegada de humor sarcástico e ficção cientifica burlesca. Em 2001, depois da súbita morte do autor, vários fãs acabaram prestando homenagem a ele no dia 25 de maio, duas semanas após o seu falecimento, decretando a data como o “Dia da Toalha“.
Paralelamente e coincidentemente, 25 de maio de 1977 estreava nos cinemas a epopeia espacial de George Lucas: Star Wars – Uma Nova Esperança. Star Wars não foi o primeiro filme de ficção científica para o cinema, muito menos foi o mais inovador, mas conquistou muitos fãs por causa de seu roteiro envolvente, a batalha explícita entre bem e mal, e pelo visual estonteante e inovador para a época. Foi muito copiado, mas nenhum chegou aos pés da saga, mesmo depois de anos.
A data mesmo começou a ser comemorada na Espanha em 2006, e seguiu um movimento que estava se espalhando pelas redes sociais. Enquanto nas décadas passadas, e até geração passada, o orgulho do jovem era ser um cara esportivo, extrovertido, mas ligado no social do que no mental, a geração que nasceu e cresceu na frente de uma tela, seja ela de computador ou TV jogando videogame, já via esse estereótipo ultrapassado. Estávamos entrando na era da inteligência. E conceitos deveriam ser mudados.
Bombardeio massivo de cultura geek
Nas décadas seguintes à 1970, começamos a ver a cultura nerd/geek ser injetada no mundo. Em 1980 começou a era dos videogames, em 1990 se popularizou os computadores e começou a internet, e em 2000 já estávamos conectados. Era fácil consumir cultura nerd/geek. Filmes começaram a ser feitos enfatizando o “poder geek”. Hollywood se rendeu aos filmes adaptações de quadrinhos. Tínhamos séries voltadas para nossos gostos. Era uma felicidade só.
Sim. Ainda é. E se popularizou. O nerd não era mais estereótipo de pessoa que vivia estudando, sofria bullying, era viciados em jogos eletrônicos e de tabuleiro, e quadrinhos. Agora, todo mundo queria ser nerd. Ser nerd era a moda. E a moda se apropriou da cultura geek/nerd.
Eram roupas, bens de consumo, filmes, livros, revistas, programas de TV, filmes, músicas… Tudo para um público crescente e orgulhoso. Filmes e animes antigos eram exaltados. Jogos como RPG ganhavam notoriedade invés de exorcismos. Todo mundo assistia The Big Bang Theory e fingia que entendia de quadrinhos como X-Men e Watchmen. Muitos ainda fingem.
Aí começou um fenômeno que começou a estragar a nossa contracultura: o “nerd” (com aspas mesmo).
Seja nerd e não “nerd”
Fenômeno dos últimos anos bipolarizados, surgiu o “nerd” que segue a onda da contracultura geek, mas que não absorveu nada do que foi dito.
Ele se diz apolitizado, pois não quer envolver política com seus quadrinhos. Ele chora nas redes sociais pois uma empresa detentora de uma licença de adaptação de quadrinhos para um filme mudou a etnia/sexo de um personagem que ele nem conhecia direito (pesquisou a imagem no Google).
Ele diz que leu X-Men, mas critica que o povo vá as ruas para defender seus direitos. Ele se diz “rebelde” contra o império, mas elege o próprio Palpatine para um cargo do executivo. E o da pior espécie: ele detesta que algo mude, principalmente se for de uma obra no qual ele se diz “geek”.
De repente, chove textos defendendo suas “nerdices” nos principais blogs e redes sociais, vira youtuber falando de conservadorismo com uma camisa de Allan Moore no corpo… E chove meme criticando diretores, escritores, produtores de conteúdo, blogs, sites, filmes, programas, etc.
Esse “nerd” é preconceituoso, desinformado, provavelmente mal educado, conservador (quê?) e o pior de tudo: pensa que sabe sobre a cultura geek pois consegue pesquisar ou fazer um download pirata daquele assunto, e de repente, pensa que sabe de tudo sobre. Aposto que nem sabia quem era Tony Stark antes do primeiro filme do Homem de Ferro…
Eu, esse que vos escreve, tem muito orgulho de ser nerd. Nesses meus 40 anos de vida, quero que meu filho siga esse estilo de vida que sigo. Mas de forma responsável. Quero que ele leia quadrinhos e mangás, e absorva o que leu. Quero que ele assista filmes comigo e saiba distinguir quem é bom e quem é mau. E principalmente, quero que ele aceite que o mundo não é quadrado e que tudo está em mudança o tempo todo.
O mundo aprendeu e mudou para aceitar o nerd. Por que o “nerd” não pode aceitar mudanças? Será que crescemos muito em população geek que trouxemos para nosso lado pessoas que não entenderam a mensagem do que consomem? Será que a superficialidade realmente nos afogou a ponto de consumimos sem saber o que estamos consumindo, e sem ao menos saber fazer uma autocrítica?
O “nerd” tem que acabar.