“Ainda existe uma esperança. E no inferno, ela pode vir em forma de desespero.”
Ethena Astorma “Storm” Silverhand
1477 C.V.
QUINTO TOMO – STYGIA
O deserto gelado e branco de Stygia pegou a todos nós de surpresa: não acreditaríamos que fosse tão gelado, e principalmente, que encontraríamos Hilga viva. Já faziam 6 meses que estávamos longe de Faerüm, e praticamente “comemoramos” o ano-novo nos infernos. 1477 C.V., O Ano da Estátua Roubada, foi profetizado por Alaundo do Forte da Vela há alguns séculos atrás. Será que esse nome seria aplicado à nossa missão? Somente sobrevivendo para descobrir.
Nosso último contato mágico com Hilga, que estaria perdida nesse inferno branco, foi há quase 4 meses atrás. Depois disso, não tivemos contato. Com a ajuda dos augúrios divinos de Oskar, e depois das habilidades premonitórias de Farengar, conseguimos achar pistas onde ela estaria. Enfrentamos vários diabos do gelo hostis, mas nada diferente do que enfrentamos antes. Encontramos Hilga muito bem (melhor até do que a gente), e colhi o depoimento dela, conforme escrito logo abaixo.
***
Após o combate contra aquela criatura na Torre dos Ossos, senti que minha vida me deixava. Perdi muito sangue e parecia tarde para tentar curar as feridas. Além do mais, aquele monstro ainda não havia saciado sua sede de me bater, mesmo depois de eu ter caído. Em meu último sopro de consciência pensei: este é o meu fim.
Mas eu ainda estava viva e sentido minha pele, ainda que adormecida, queimar. Eu estava deitada, não sei há quanto tempo, em uma fina camada de gelo, sobre um lago congelado. Procurei por minhas coisas, mas nada estava comigo, eu estava nua.
O frio deixava as pontas dos meus dedos azuis, e sem uma saída, comecei a correr para procurar um abrigo aonde pudesse me aquecer, porem estava muito frio, a hipotermia começou a afetar-me e meus movimentos e visão foram enfraquecendo. Tropeçando, caí e acabei rachando o gelo e indo parar dentro d’água.
Quando abri meus olhos percebi que estava em uma situação agoniante, a água era muito fria e eu estava prestes a afundar. No susto tentei me agarrar a algo que me desse sustentação, mas haviam apenas pedaços de gelo, que rasgaram mais e mais a minha pele. Eu não suportava mais, não conseguia nadar e já estava afundando, foi quando ela apareceu, para minha enorme surpresa.
Me estendendo sua calorosa mão, me retirou da água, bem quando eu estava prestes a afundar. Já fora da água é que tive a certeza, era assim a minha irmã Helga, porém havia nela um halo dourado e um par de asas. Ela salvou-me da morte certa. Em uma caverna aquecida por um veio magmático, agora vestida, com essa roupa belíssima, eu recobrei a consciência. Muitas palavras surgiram e eu tentei tocá-la, mas ela era intangível e não falou uma só palavra, apenas apontou-me uma direção.
Caminhamos pelo deserto gelado por cinco dias e meio. Boa parte de nosso caminho pareceu ser de uma terra inexplorada, com criaturas bestiais na água e no solo. Vi remorhazes, krakens, e até uma tribo que me parecia ser de gigantes de gelo. O tempo inteiro com o céu cinza cortado por relâmpagos. Nesse ambiente cruelmente frio, o tempo inteiro estávamos atentas contra as constantes ameaças de ataques e por diversas vezes foi preciso parar a viagem para não ter de enfrentar nenhuma dessas criaturas.
Apesar de tudo isso, de alguma forma eu sentia que ainda estava em algum lugar do inferno. Tive a certeza quando avistei várias criaturas infernais em um local, justamente para aonde Helga apontava. Entendi que ela queria que eu fosse até lá. As criaturas estavam formando um círculo e, por meio de rabiscos no gelo, entendi que minha irmã queria que eu fosse para o meio dele.
Fiquei espreitando o local na tentativa de descobrir a melhor hora para tentar alcançar o centro. Havia algo lá dentro que os infernais queriam pegar, mas algo os impedia de se aproximar. Na verdade, não havia dentro, de onde eu estava não enxergava barreira física alguma. Com o passar do tempo muitos deles saíram de lá, não sei para aonde, só sei que foi o momento oportuno para eu me aproximar silenciosamente, até que cheguei tão perto que corri. Precisei nocautear dois ou três deles com meus punhos, até que cheguei passei por todos.
Eles se agitaram ao me ver lá dentro, mas não conseguiam se aproximar de mim. Agora entendo o que minha irmã fez. Sim, aquele era um local consagrado. De algum modo ela abriu um caminho entre o plano que ela estava e aquele ponto e o protegeu, talvez divinamente. Tal proteção impediu que os infernais ultrapassassem seus limites, contudo também serviu de farol para que encontrassem o que estava ali.
Ela queria que eu encontrasse essas relíquias. Elas estavam junto a este pergaminho, que explica que esses itens faziam parte de uma coleção pertencente a nossos ancestrais. Que em nossa família antigos guerreiros os conquistaram e os passava de geração em geração.
Uma capa, um Anel, um Machado e um Cinto.
Após eu tomar posse de toda as coisas, minha irmã se despediu. Com ela a proteção também se foi e todas as criaturas que ainda estavam ali vieram sobre mim de uma só vez. Não foi tão difícil quanto eu imaginei que seria, eles não resistiam aos meus golpes. O Diabo do Gelo que os liderava também não resistiu, eu derrubei a todos.
***
Não sei se acreditei nas palavras de Hilga, que conforme conversei posteriormente com outros membros mais antigos dos Libertadores, entrou no grupo pois soube que sua irmã tinha desaparecido após um combate com uma criatura nos esgotos de Silvermoon. Farengar não conseguiu manter o segredo, e confessou que foi por causa dele que Helga foi parar em algum plano com a criatura. Acalmei-o. Seu segredo estaria guardado. Pelo menos, se Hilga não ler esses tomos que estou escrevendo…
Storm Silverhand
SEXTO TOMO – MALBOLGE
Tivemos que fazer um acordo com outro diabo, um mais interessado em itens mágicos, para poder chegar à Malbolge. Claro que, conforme apelos de nosso guia oficial, seríamos traídos. Traições nos infernos é bem redundante, mas já estávamos preparados. Pelo menos ninguém se feriu durante o transporte pelo portal, mas a queda foi assustadora. Com a ajuda de Palutena, e de Farengar, minimizamos os danos, já que esse nível dos infernos é um buraco sem fundo.
Procurei com mais determinação por Zeed, agora por um motivo pessoal: foi confiado à Zeed por uma das minha irmã, a essência de Mystra que todos nós carregamos. Syluné era um fantasma mágico que protegia o Vale das Sombras, e foi destruída para sempre por continuar a proteger a região mesmo depois de morta há algumas dezenas de anos atrás. E perder Zeed seria também perder a essência e memória da minha irmã.
Interrogamos diabos desse nível, e soubemos que Zeed estava em um grupo insurgente. Nesses 7 meses que passamos separados, ele teve muita coisa para fazer, e depois que encontramos ele, colhi e copilei seus atos para uma análise aprofundada posterior.
***
Zeed acorda em queda livre. O vento, em umas partes quente e em outras frio, faz que ele recobre a consciência rapidamente e bata suas asas. Um vasto nada segue para baixo, um buraco infinito. Acima, o que parece ser um céu estrelado, parece também um outro infinito. No horizonte, uma muralha inclinada, uma montanha impossível, sem pé e sem pico.
Ele busca por seu equipamento, como que tentando encontrar algo que lhe pudesse ser útil naquele instante, mas não encontra nada, havia perdido tudo. Depois de alguns minutos, teve uma vaga recordação do que aconteceu na Torre dos Ossos. Refletiu um pouco e fez grande esforço pra recordar de tudo, mas desistiu, o que importava agora era por-se em segurança.
Voando à esmo, por horas, está exausto, e deixa por algumas momentos o seu corpo cair para descansar. Depois de alguns dias, encontra uma cidade encravada na montanha. E estranhamente aquilo lhe pareceu um paraíso para seu repouso. Sua visão turvada pela exaustão não consegue distinguir exatamente para onde estava indo.
Estranhamente aquilo trouce recordações de seus pais nas montanhas geladas onde morreram, porem o lugar guardava uma grande diferença, estava muito quente. Até aonde a vista dá só há enormes pedras, cinzas, negras e escarpadas, cheias de vapores fedorentos, fumaças, poços de fogo e enormes cavernas e cavernas.
Na falta de vegetação frondosa, como as encontradas na região em que foi criado com sua ninhada, decide se abrigar em fendas nos rochedos. Não é fácil encontrar um lugar que parecesse adequado, um que não esteja tão quente. Parado em uma fenda qualquer ele se oculta e mantem sua respiração ritmada e profunda. Isso o ajuda inicialmente a recobrar suas forças, porém favorece com que ele inale este ar quente, ao qual não está habituado. O ar, denso e em partes tóxico, o entorpece e faz com que ele perca a consciência.
Subitamente ele é acordado em meio a estrondo, estampido de pedras rolando, algo com o que ele logo se acostumaria por ser muito comum Malbolge. Ele não se fere com gravidade, pois estava protegido na fenda, porem ouve uma voz, um gemido como que pedindo ajuda em idioma infernal.
Suas lembranças ainda estão muito vagas, mas o impulso por ajudar ao outro está mais forte que o medo do desconhecido. Debaixo de uma rocha está aquela criatura repetindo uma única palavra “Ajuda!”. A rocha é enorme e está sobre metade da asa esquerda morcegoide daquele ser com pele avermelhada, musculoso, com cabelos negros de onde surgiam um par pequeno de chifres e uma longa e grossa calda. É difícil decidir o que fazer, Zeed não possui força o suficiente pra mover aquela pedra.
Em uma atitude de desespero a criatura diz, ainda em infernal, – Acalme-se! Se quer me ajudar só há uma coisa a se fazer, pegue a minha lamina e corte minha asa ao meio. Não há tempo a perder. Zeed então responde – Se eu fizer isso você ficará ainda mais ferido. – Não há escolha, se ficarmos aqui mais tempo você será assassinado e eu, além de perder minha asa, voltarei para ser torturado. Seja rápido, precisamos fugir. Eu conheço um esconderijo.
Passados quase trinta dias, todos eles de fuga, a amizade entre Zeed e Atzenká se fortaleceu. Zeed o ajudara em um momento importante, salvando sua vida. É possível que esta seja uma amizade única entre um aarakocra e um cambion, descendente criaturas infernais e materiais.
Atzenká era costumeiramente torturado para obedecer as ordens de seu superior, governante daquela região. Por isso ele fugia. Mas o plano foi tomando forma, era hora de rearticular a rebelião. Sempre foi um guerreiro ambicioso, como é comum entre os Cambions, mas diferente de seu superior, que cultivava a servidão pela tortura de seus subordinados, Atzenká acreditava que os soldados deveriam ser valorizados e respeitados pelas suas capacidades.
Não tendo para aonde ir e sem notícia dos Libertadores, Zeed não apenas se envolveu no despertar da rebelião, juntamente com Atzenká, ele a liderou. Por ser uma criatura exótica no inferno e por estar acompanhado de um Cambion, logo ele ganhou respeito entre os que compartilhavam das ideias de Atzenká.
Tudo ainda era pequeno. Passadas dez dezenas desde que se encontraram pela primeira vez o grupo ainda era relativamente insuficiente para uma insurreição, não passavam de quarenta. Para reunir forças todos seguem secretamente tentando agregar novos adeptos e, principalmente, cumprindo articuladas e minuciosas incursões para reunir suprimentos, itens, armas e o que mais houver de útil para minar o poder do Soberano Dominador, como era conhecido o sádico diabo governante.
Assim Zeed se fortaleceu. Assim ele se tornou um estranho aliado na insurgência.
***
Quando encontramos Zeed, ele parecia uma pessoa totalmente diferente. O tempo passa diferente para aarakocras, e para Zeed, pareceu que passou alguns anos, mesmo tendo passado alguns meses. Ele explicou todo o plano, seu pequeno exército, e a necessidade de ajudar o amigo cambion. Não sei se por inocência, ou por algum feitiço, Zeed não sabia que todo cambion possui intenções malignas, e possivelmente estava usando Zeed para seus planos. Tentamos alertar Zeed, mas de alguma forma ele estava conciso da sua decisão.
Prometemos ajudar com a promessa que Zeed continuaria a missão que todos nós estávamos empenhados. Derrubamos o líder regional, no qual o cambion almejava tomar o lugar dele, entrando na escada de poder dos diabos, e como previsto, formos traídos. Mas como traições anteriores, os Libertadores estavam preparados.
Foi um combate duro, algumas baixas onde quase perdemos o grupo, mas por intervenção quase divina, conseguimos derrotar a tropa de Atzenká. O cambion experimentou as lâminas de Hilga, enquanto a tropa sofria nas mãos do Farengar e Thalionhir, e Palutena e Oskar dava o devido suporte. Estive ativamente no combate, mas dessa vez, prestei bem atenção nas ações de Aira, e para uma mulher que não sabia há algumas dezenas nem pegar em uma espada, nesse combate ela se portou muito bem. Bem até demais.
Escapamos da perseguição, e depois de alguns dias voando à esmo, encontramos um portal para o próximo nível. As gemas pagas ao nosso guia foram bem válidas. E ele está se provando um excelente guia, mesmo fugindo quando tem combate.
Storm Silverhand
Saudações aventureirxs!
Continuaremos com a próxima (e penúltima) parte em breve! Algumas informações passadas constam relatos intimistas dos personagens dos Libertadores de Phandelver, no qual após essa série, atualizaremos as informações e histórico de todos para deleite dos leitores. E se quiserem ler o texto anterior, é só clicar aqui.
E rolem dados!