Devemos politizar o RPG?

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Como lidar com o hobby em um ambiente ou grupo no qual os jogadores possuem divergências ideológicas? Devemos politizar o RPG?

Devemos politizar o RPG?

Saudações aventureirxs!

Desde as últimas eleições presidenciais nacionais, tivemos um movimento político forte no Brasil, que está refletindo em várias esferas de cultura, entretenimento, e em campos outroras nunca alçançados: a politização.

Vivemos em tempos binários, onde cada um tem seu “time” político, e faz questão de defender o seu lado nas redes, nas rodas de conversas, chats e fóruns…

Com o advento das redes sociais nessas últimas décadas, o que antes era um papo generalizado em mesas de bares, hoje é o “café-almoço-jantar” da maioria dos brasileiros. Da maioria, não todos.

É um assunto delicado, mas vamos tentar ser o mais imparcial possível, mesmo sabendo que não existe imparcialidade em ideologias políticas.

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RPG e Política

RPG é um jogo social, no qual pessoas se reunem para jogar. Leia-se pessoas: com hábitos, religiões, ideologias, ideias, vidas muitos diferentes.

A função social do RPG é ser um jogo, logo ele pode sim atrair várias pessoas diferentes. Mas antes de ser um jogo, ele é uma reunião de pessoas. Logo, pensa-se que essas pessoas, reunidas para se divertirem, tenham algum laço empático entre si.

A afinidade é a palavra chave nesse contrato social do RPG. Ninguém pode obrigar a umx jogadxr a jogar com um outrx jogadxr no qual não goste ou não tenha afinidade, isso é fato.

Mas, por que não existiria afinidade se ambos estão reunidos para jogar RPG?

Afinidade e Empatia

Quando se fala em politizar o RPG, logo se projeta a imagem de trazer para dentro do jogo assuntos ou ideias de fora. Trazer discussões polêmicas como pautas inclusivas, debates sobre proibicismos, lei e ordem, conservadorismo e liberalismo, capitalismo e comunismo, etc.

Ideias tão vastas, diferentes, e muitos divergentes entre si, entram em atrito quando colocadas no campo das ideias e dos debates das pessoas envolvidas. E isso não é ruim. O homem é um animal político, como já dizia Aristóteles, e ele (o homem) coloca sim tudo dentro da política.

E quando ele faz isso, pode trazer atritos entre participantes. Aí temos os medidores de afinidade (o quão aquela pessoa se identifica comigo) e empatia (o quão estou disposto a entrar no lado dele).

O RPG não trata disso. RPG é um jogo no qual os jogadores interpretam personagens em mundos fictícios, com suas próprias políticas e… Eita.

Política de Fora e Política de Dentro

Se o RPG simula um mundo com suas próprias políticas, e vivemos (na vida real) um mundo com suas próprias políticas, então, querendo ou não, o RPG pode sim ser um jogo político.

Alguns RPGs focam explicitamente nisso, colocando debates dos mais diversos dentro jogo. Exemplos:

Na linha Storyteller/Storytelling, mesmo o jogo prezando pela carga dramática dos personagens dos jogadores serem seres amaldiçoados, todos os personagens estão inseridos em um ambiente político onde cada clã/tribo/facção/etc possuem ideologias e pensamentos próprios.

Partindo para um espectro mais religioso, em jogos como o da linha sombria da Daemon (Anjos, Demônios, Magos, etc), existe uma batalha para arrecadar massas de manobra para os lados de cada um. Anjos e Demônios disputam seus territórios conquistando mortais, e até negociando almas entre eles. Política!

Para os jogos mais gamistas, temos os shadowrunners, mercenários que trabalham nas sombras para grandes corporações ou para grupos políticos, que se degladiam em uma espécie de guerra fria. Assassinato, tramas, traições. Shadowrun é pura política!

Eu poderia abstrair os exemplos onde no RPG entra política, desde as disputas de territórios das facções em Dungeons and Dragons e jogos correlatos, até coisas mais sutis do debate entre bem vs mal, dicotomia muito usada nos jogos de RPG. Mas aí seria um texto acadêmico de 60 páginas, o que não vem o caso.

O RPG é um jogo político, então por que não se pode trazer política de fora para dentro do RPG?

(Des)politizar o RPG?

Sabendo que o RPG é um jogo que tem traços políticos, para mais ou para menos, por que as pessoas são aversas à falar sobre política principalmente nos grupos?

Voltando lá para cima, ninguém é obrigado a jogar com pessoas que não tenham afinidade e nem empatia. Como o RPG é um jogo social, iremos interagir com pessoas, e quando o “santo” não bate com o outro, no campo da sociabilidade, melhor não forçar.

Também voltando para a politização do brasileiro, hoje temos muitas bolhas sociais, onde pessoas das mais variadas linhas de pensamentos ou definições, preferem ficar nas suas próprias “bolhas”.

Uma dessas bolhas, a exemplo da LGBT+, procura fazer grupos com seus integrantes, por razões óbvias: são pessoas com a mesma vivência e linhas de pensamento, e que se respeitarão entre si pois possuem as mesmas experiências fora do jogo de vida.

Outra bolha, essa mais recente, são das mulheres. RPG é um jogo que nasceu machista, e infelizmente reluta muito para não deixar de ser. Não é a toa que grupos femininos procuram jogar entre elas do que fazer grupos mistos, por diversos motivos (óbvios) que podemos elencar em um futuro artigo.

E finalmente, a bolha que causa mais polêmica é a de lado político: jogadores esquerdistas procuram jogar com outros jogadores esquerdistas, excluindo jogadores direitistas. Total direito deles, já que estão procurando uma zona de conforto que um jogador direitista, por exemplo, poderia abalar. O inverso também vale.

Essa última bolha é uma das mais atacadas pois o principal argumento é “não podemos politizar o RPG”. Mas conforme os últimos parágrafos desse artigo, se o RPG é também um jogo político, por que não deveríamos politizar o RPG?

RPG comunista? Confira aqui.

Politizar o RPG em prol do RPG

Devemos politizar sim o RPG. RPG é um jogo social, no qual estamos reunidos com outros jogadores para se sentir bem, buscar conquistas, e ter aquele sentimento de realização. RPG é uma fuga sadia da realidade, e procuramos não trazer essa realidade para o jogo.

Qualquer jogador deve procurar sua zona de conforto ao jogar. Se você fica confortável jogando com pessoas independente do credo, sexo, posição política, e etc… parabéns. Se não é, não é desmerecimento seu. Procure um grupo que você se sinta confortável.

E para aqueles que criticam quem quer procurar esse conforto, no final é você que não está em sua zona de conforto e ataca quem procura uma. Se você se sentiu excluído de um grupo pois não atendeu os requisitos propostos por determinado mestre ou grupo, já se perguntou o por quê?

Nesse caso, a melhor solução é perguntar quais preconceitos foram gerados para sua pessoa e tentar tirar esse preconceito. Se for em relação a sua sexualidade, religião, etnia, uma boa conversa é uma boa solução. Agora se for ideologia política, será que você se sentirá confortável com um grupo que pensa e age diferente do que você pensa e age?

Tudo pode ser tratado no campo das ideias, no debate e na conversa franca. Agredir ou atacar não é uma opção viável, pois atiça mais ainda os preconceitos que o outro lado tem com você.

Mesmo em tempos tão binários, com bolhas mais fechadas, tente manter o respeito em grupos de RPG nas redes sociais. Não force ou não critique grupos que preferem procurar membros que possuem ideias similares. E se você não foi aceito em um grupo, bola pra frente! Procure outro grupo ou faça seu grupo!

E a palavra de lei aqui é respeito. Se existe um preconceito com sua ideologia, procure desmistificar com base no respeito. Se você exige respeito, tenha respeito também.

Discordam do texto? Concordam? Coloquem suas experiências nos comentários. Vamos conversar.

E rolem dados!

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