Fomentando pensamentos filosóficos no RPG

Pensamentos Filosóficos no RPG

Como transformar personagens e campanhas de RPG de um puro “bem e mal” para definições e pensamentos filosóficos onde os jogadores passam a questionar?

Pensamentos filosóficos no RPG

Saudações, aventureirxs!

Com o mundo real prestes a presenciar uma nova guerra na Europa, e vários lados lançando suas razões para que algo aconteça, e inocentes entre fogo cruzado, é sempre interessante pararmos para pensar de uma forma não tão pragmática e dicotômica sobre razões e cenários. E claro, voltar isso para nosso hobby, que é os jogos de RPG.

No nosso hobby, salvo alguns jogos que explore abertamente isso, os cenários sempre são “binários”, onde temos o bem e o mal bem caracterizados, e normalmente os jogadores fazem parte do bem. Em muitas campanhas, eles não precisam pensar muito sobre as razões do que fazem, e principalmente, já possuem um julgamento do que o vilão faz.

É sempre “o mal são eles e a bondade somos nós”, mas nunca se pegam pensando que existem perspectivas de ação, e que eles podem ser o mal para alguns, dependendo da expectativa.

Mas claro, em campanhas que os jogadores não procuram investigar sobre motivações, ou até mesmo os mestres estão com preguiça de explorar tal feito, o cenário fica binário e fica por isso mesmo. É divertido? Sim. Realístico? Não.

Então, como dicas de hoje, vou explorar um pouco sobre dualidades e reações, e ao ler sobre, você jogador ou mestre pode dar mais imersão ao seus personagens, transformando-os em memoráveis.

Pensamentos filosóficos: O bem não tão bem e o mal não tão mal

Uma coisa que podemos transferir para nossas mesas é que, nem tudo é exatamente o que parece. O rei não é 100% bom, as pessoas comuns não são 100% honestas, os monstros não são 100% malignos, e finalmente, o vilão não existe somente por ser o vilão.

Todos os personagens precisam de conteúdo, e mesmo as ações mais malignas possuem uma motivação e perspectivas diferentes. Puxando isso para pensamentos filosóficos, dar uma profundidade às ações de NPCs e PCs é a graça de se jogar RPG, e transformar um cenário em algo mais vivo e intenso.

O rei pode ser bom na aparência, mas aprova decisões ambíguas ou até duvidosas. A cidade real é uma maravilha, mas explorando mais, pode se notar pobreza, roubos, caos social. Mas a realeza é intocável, né? Que tal transportar esse tipo de realidade para seu cenário de fantasia.

Ao misturar dualidades e pensamentos diferentes para personagens, deixa-se a semente da dúvida se está no lado certo ou errado, e isso é interessante para que os jogadores pensem se estão realmente fazendo algo certo.

Pensamentos filosóficos: Ninguém é 100% do que aparenta ser

Ao enfrentar um inimigo aleatório, ao contrário do que o senso comum prega, ou até mesmo o livro de antagonistas ou monstros coloca, não importando o sistema ou cenário, não se tem a desculpa de que ele está lá, ser mal, e precisa ser derrotado ou morto.

Um exemplo para tal pensamento é a cadeia alimentar. Um leão não é uma criatura má porque caça um antílope que só come plantas. Ele faz isso porque é o instinto dele e sua forma de alimentação. Ao contrário do hábito predatório dos humanóides, onde chegam em um local e exterminam parte da população nativa de animais e plantas para se estabelecer, o leão está integrado ao seu meio. Ele não mata por matar.

E se levarmos isso para os monstros? Será que todo monstro que aparece na frente mata apenas por matar? Claro que, se pensar em cadeia alimentar, os heróis são parte dela, e os monstros podem mesmo querer se alimentar deles, mas isso em se tratando de monstros não inteligentes. E os inteligentes?

Fomentando pensamentos filosóficos no RPG
Transformando um vilão “binário” em “cebola”

Pensamentos filosóficos: Se tem inteligência, pode discernir o que é bom e o que é ruim

Em cenário de alta fantasia, é muito claro que um elfo, por exemplo, seja sempre bom, enquanto o orc, no mesmo exemplo, seja mal. Mas sabemos que isso não é inerente sempre. Por que não pode existir um orc bom, ao mesmo tempo que pode existir um elfo mal? Por que as coisas precisam ser sempre binárias? O pensamento é superior a isso.

Procurar fugir dos conceitos e preconceitos, principalmente ligados à raça, é uma forma de dar mais conteúdo ao seus personagens. Não tem lógica existir uma nação “inteiramente má” ou “inteiramente boa” quando a complexidade do cérebro senciente pode tomar decisões certas ou equivocadas. Claro que, o julgamento de bom e mal pode passar por recortes temporais discutíveis, como o exemplo do Brasil, onde instituições religiosas apoiavam a escravidão, e a mesma era política do estado.

Existem cenários onde esse assunto é notório. Mas será que ele é aprovado por 100% da população do cenário? Aqui no Brasil, duvido muito que essa percentagem da população apoiava tal tipo de barbarie.

E vamos falar de barbarie. Populações e civilizações podem possuir níveis de desenvolvimento diferentes, mas por essa razão, a mais “evoluída” seria a boa e deveria destruir a menos evoluída por ser má?

Pensamentos filosóficos: Colocando dúvidas de caráter nos personagens

Ao colocar mais conteúdo em personagens, seja eles personagens dos jogadores ou do mestre/narrador, temos uma perspectiva diferenciada do julgamento do bem e do mal.

Claro que assuntos mais delicados e retrógrados podem ser colocados em cheque, como escravidão e sacrifícios, destruição, estupros, etc. Esses assuntos podem ser complexos e até ofensivos ao colocar na mesa, então, é interessante discutir com os jogadores se tais assuntos são aceitáveis ou não.

Mas outros assuntos, principalmente motivações, podem ser colocadas sim. Um exemplo de minha campanha:

O primo do rei, um barão, é muito afeiçoado a ele, e é recíproco. Mas somente nas aparências. Ao se investigar mais, parece que o barão está conspirando contra o rei. Ele está juntando tropas, e escravizou populações de humanoides marginais, ao mesmo tempo que deu poderio militar e promessas para outros humanoides.

Descobre-se que esse barão está privilegiando a população que ele acolheu como sua, suas terras, e procura desenvolver a região, coisa que nunca foi feita antes, usando, infelizmente, mão de obra de estrangeiros capturados. A população está feliz, apoia o barão, pois não considera que quem esteja sendo capturado seja parte deles. E a região está prosperando com a propaganda que pode ser expandida caso o barão vire rei.

Se colocarmos os escravizados humanoides como monstros como kobolds, orcs ou gnolls, seria então o barão uma pessoa boa? Mas se for colocado humanoides como halflings, elfos ou até humanos, seria ele uma pessoa má? O que diferencia se algo bom ou mal está sendo feito é apenas a estética?

Fomentando pensamentos filosóficos no RPG
Pacificador (Hbomax) – Todos os direitos reservados

Pensamentos filosóficos e a semente da dúvida

Ao colocar uma questão dentro da história do cenário no qual está se jogando, é um tempero à mais do jogo. Colocar motivações mais complexas no vilão ou herói pode deixar ele mais memorável. Um caso mais interessante que foi explorado há pouco tempo na TV foi o caso do Pacificador (HBOmax, 2022). O personagem é mais cheio de camadas do que uma cebola. É um “herói” que quer trazer a paz, mesmo que isso signifique matar crianças, velhos e mulheres para tal.

E que tal fazer um personagem tão ambíguo quanto? Como um mago que quer dominar o mundo, mas entra no grupo somente para conquistar mais experiência e poder, seguindo na onda dos “heróis”. E depois de conquistar seu poder, virar ele o vilão? Mas seria mesmo ele um vilão, pois ele tem a ideia de quebrar governos autocrático (como derrubar o rei) e instituir uma república. Com ele no poder, claro. Isso é bom ou ruim?

Não quero usar pensamentos filosóficos no meu cenário!

O texto que você leu é uma dica para transformar seu cenário e/ou personagens mais realistas e menos binários (bem e mal redondinhos). Mas se isso tirar sua diversão, pois você quer um jogo sem que precise queimar neurónios tentando desvendar que aquele vilão na verdade é um herói, e o herói que você pensava é você, então fique livre para não usar a dica dos pensamentos filosóficos no seu jogo. Ele é seu e você faz o que quizer.

Claro que é possível usar a desculpa de “quero fugir de assuntos problemáticos” na mesa, e compreendo muito bem isso, mas se quiser algo mais profundo e não tão “certo e errado”, aproveite as dicas e pensamentos deixados nesse artigo.

Aceito também comentários explicando motivos, ou se você já utiliza tais meios narrativos, coloque também seus exemplos. Compartilhando experiência faz com que todos nós ganhamos níveis juntos!

E rolem dados!

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